segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Dias de Luta

O rock e o Brasil do anos 80!


Ok! Que tal dar uma trégua para seu aparelho de cd, vinil ou mp3? Aproveite que fevereiro está chegando e adquira um pouco de conhecimento histórico sobre rock brasileiro dos anos 80! A algum tempo, mais especificamente no ano de 2002, foi publicado o livro Dias de Luta – O rock e o Brasil dos anos 80, 399 páginas, editora DBA. O autor é o crítico musical e jornalista Ricardo Alexandre.

Imagine você o que era fazer rock na década de 80, vou lhe situar: O Regime Militar (ou a ditadura para os mais íntimos) começava o período de abertura política, após uma década e meia de desmandos e barbáries! A juventude dos anos 80, em sua grande parte, nasceu e cresceu amordaçada por um sistema que lhe tolia a liberdade e toda e qualquer forma de manifestação. Neste cenário, vindo da década de sessenta e setenta, surge o rock dos anos oitenta! Bandas como Titãs, Ultraje a Rigor, Capital Inicial, Legião Urbana, Ira!, RPM, Blitz, e mais uma penca delas, explodem para todo o Brasil com uma tônica peculiar ao cenário político da época.
Se a década de sessenta pode ser considerada a “era dos festivais” os anos oitenta podem ser taxados como a “era de ouro do rock nacional”, não que os anos que se sucederam não foram importantes, mas, verdade seja dita, os anos 80 foram mágicos! Mágicos pois o rock nunca teve tão em alta como naquela época! A moda era dançar ao som da juventude! E o cheiro de mudança política que pairava no ar parecia mover os adolescentes e os incentivá-los a montar suas próprias bandas. Jamais, em outro período da história recente de nosso País se pode ver uma enxurrada de tantas bandas com qualidade (veja que botei a palavra qualidade nesta sentença!) a pipocarem em solo nacional.

A indústria fonográfica descobriu que o rock podia dar dinheiro, e, neste ponto, fez com que ele rendesse muito aos seus cofres! Infelizmente a década que se sucedeu aos anos 80 trouxe um marasmo salvo por poucas bandas de grande brilhantismo, e cenas isoladas em pontos perdidos de nosso país arrasado pelas duplas sertanejas pós era Collor.

Mas voltando ao livro! Não sei se é possível encontrar este livro para vender ainda! A muito tempo não vejo nas prateleiras das livrarias que costumo freqüentar e, confesso, quando o encontrei tratei de comprar, principalmente por ser o único exemplar a disposição! No entanto, se você gosta de rock, viveu, como eu, sua infância nos anos 80, ou já era bem crescidinho naquela época, ou, ainda, na pior das hipóteses acha que o “pogobol” é invenção do Gugu, “pense bem” é apenas uma expressão de linguagem e a “porta dos desesperados” não faz parte dos momentos mais hilários de sua tenra infância, é bom pegar este livro nas mãos e sentir a história recente da música popular brasileira, para, assim, se deliciar com fatos e fotos que só farão você compreender porque o rock dos anos 80 é tão cultuado entre críticos e entusiastas da música brasileira.

No final do livro o autor, através de critérios dele, dos quais eu discordo em vários itens, atribui notas para a discografia de inúmeras bandas, da seguinte forma:

***** - Clássico. Obrigatório em qualquer discoteca de pop brasileiro;
**** - Recomendável. Um ponto alto na carreira do artista;
*** - Digno. O artista faz o e se espera dele, sem grandes altos ou baixos;
** - Um tanto decepcionante. Abaixo de seu próprio padrão;
* - Fraco. Somente para fãs e completistas.

Enfim, o mais importante do livro não é a última parte, que, na verdade possui uma grande valia no sentido de saber qual disco está faltado para completar a discografia de sua banda preferida, isso até 2002, mas sim as histórias e fatos que levaram o rock dos anos 80 a ser o ponto alto de uma juventude que aprendeu a falar o que pensava após duas décadas de mordaça estatal.

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Os Replicantes

O dia que o rock parou!



Eu realmente poderia passar horas escrevendo sobre Os Replicantes, mas para que você tenha noção do impacto causado por essa banda na minha vida vou resumir em apenas uma frase (só para começar): Replicantes mudou tanto minha forma de pensar e ver o mundo, mas, principalmente, me mostrou o que eu iria fazer pelo resto de minha vida, que, passado mais de dez anos, continuo vislumbrado com esta banda!

Pra que você entre de cara no mundo do rock, antes de mais nada, é necessário que você se identifique com, pelo menos, uma banda, ou seja, que ela traduza suas verdades no formato de extensas, ou nem tão extensas assim, canções! Quando isso acontece você se torna fã incondicional, e mais do que isso, acaba virando um verdadeiro seguidor da dita banda para o resto de sua vida! No entanto, às vezes, a banda que trouxe a luz que faltava na sua vida acaba empunhando um instrumento musical na sua mão e definindo o que você vai ser para o resto de sua breve existência terrena. Assim foi comigo, acabei me tornando músico justamente por me identificar demais com Os Replicantes, mais especificamente com o disco “Histórias de Sexo e Violência”!

O início de minha adolescência se deu em uma época onde as FMs jorravam Nirvanas, Metállicas, Ramones, entre outros tantas, mas tudo aquilo, muito embora de grande qualidade ficava distante de mais da minha realidade! Adoro todas as bandas citadas, mas, na época, nem uma me tocava o coração! Isso ocorria, principalmente, pela barreira lnguística!

Quando conheci Replicantes, dei de cara com uma banda do meu estado, 120 km de distância da minha casa, que fazia um som pra lá de diferente e com uma temática e estética alucinógena e, mais que tudo, antenada com o que eu via e queria dizer, mas não sabia como!

Eu sempre enquadrei Os Replicantes, talvez por ser muito fã, talvez por ouvir muita coisa (além deles!!!), como uma banda um patamar acima das demais do tradicional rock gaúcho (me desculpem algumas viúvas de outras bandas), mas os motivos que me levaram a fazer isso foram simples:

A banda nunca parou – mesmo com a baixa pós anos 80, com a saída de seu principal vocalista, com o fim do “bum” do rock gaúcho, Os Replicantes sempre estiveram ali! Logo ao lado! Prontos para serem ouvidos, atitude essa que é digna de bandas de verdade e que tem na música a fonte necessária para dar seguimento a sua vida independente da situação mercadológica.

As composições – me admira a abstração de algumas letras que, na verdade, são verdadeiros roteiros cinematográficos capazes de gerarem curtas-metragem no cérebro de quem as escuta; por outro lado a mescla de canções que vão desde a crítica social passando por temas do cotidiano adulto/adolescente em uma perfeita convivência pacífica e uma peculiaridade brilhante foram capaz de tornar imortais canções que ultrapassaram gerações e continuam atuais.

A reinvenção – Os Replicantes se reinventam com o passar dos anos, inovam ao tentarem juntar artes diferentes (música/vídeo), e assim abrem caminho para uma gama de seguidores, caso você não saiba o primeiro home-vídeo no Brasil é deles!

A transformação – Com a saída de Wander dos vocais, Gerbase se vê obrigado a assumir como frontman e, assim, surge um dos discos que mais respeito “Andróides Sonham Com Guitarras Elétricas” (e que acabei fazendo uma música com esse nome!!! Mas claro isso não interessa!!!) e outros que vieram atrás como o Ao Vivo e a Volta dos Que Não Foram, por fim, o retorno triunfal de Wander Wildner, sua derradeira saída e a entrada de Júlia assumindo os vocais daquela que promete ser uma faze promissora na carreira desta vintenária banda incansável.

Por obra do destino muitos dos discos de minha banda preferida e que me marcou profundamente só podem ser encontrados em vinil, e por um preço alto! Confesso, tenho alguns e me propus a pagar este preço, mas gostaria, na onda de relançamentos, ver os três primeiros discos d'Os Replicantes em CD no mercado por um breve período suficiente para que eu possa adquiri-los!

Finalizando vou deixar a discografia da banda, indicando um disco para meus nobres leitores: Go Head! Se você conseguir encontrar este CD compre! É praticamente um ao vivo em estúdio, mas para quem não tem como adquirir os primeiros este é fundamental na sua coleção!

Rock Garagem (1984, vinil, coletânea)
Rock Grande do Sul (1986, vinil, coletânea)
O Futuro é Vórtex (1986, vinil)
Histórias de Sexo e Violência (1987, vinil)
Papel de Mau (1989, vinil)
Andróides Sonham Com Guitarras Elétricas (1991, vinil)
Replicantes Ao Vivo (1996, CD)
HOT 20 - Os Replicantes (1999, CD)
A volta dos que não foram (2001, CD)
Go Ahead (2003, CD)
Os Replicantes em Teste (2004, CD)
Old School Veterans Braziliasta(2006, CD)

Só pra deixar um gostinho de quero mais: existe uma verdadeira raridade que é o compacto (capa abaixo) d'Os Replicantes! Tive a sorte de conseguir um pra mim! Mas confesso, dificilmente encosto nele com medo de acabar riscando! Coisas de colecionador! Possui quatro músicas: Nicotina, Rock Star, O Futuro é Vortex e Surfista Calhorda! Lógico, este compacto foi produzido antes do disco Rock Grande do Sul, e o que mais me impressionado para os padrões da época: de forma independente!


segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Irmãos Rocha!

Eles não são irmãos!



Ok, ok, talvez você não conheça essa banda ainda, eu disse talvez! Mas hoje é seu dia de sorte! Minha história com os Irmãos Rocha! começou mais ou menos assim: Um belo dia de verão, se não me engano, já faz muito tempo, um grande amigo meu apareceu com uma demo de uma banda cujo o nome era IRMÃOS ROCHA! sim, tudo em maiúscula e com exclamação ao final!

Bom, até aquele momento da minha vida eu achava que já havia conhecido e ouvido todo tipo de esquisitices sonoras possíveis! Com certeza eu estava errado, pois nada, até aquele ponto da minha vida, tinha me preparado para tamanha demência que iria se suceder em meu aparelho de som a muito calejado.

O CD, intitulado Bumbababum, trazia em seu bojo à homônima Bumbababum! Foi amor à primeira audição! Tempo da música 1:01, não é uma hora e um minuto é um minuto e um segundo! No estante seguinte corri atrás de novas informações sobre aquela banda de malucos que faziam músicas empolgantes com menos de minuto e meio! Felizmente encontrei o site oficial da banda e pude me deliciar com outros petardos sonoros que lá eram disponibilizados! [ http://www.irmaosrocha.com.br/site_oficial.htm ]

Na busca incessante por sons desafiadores e fora do eixo convencional das fms, me tornei um freqüentar assíduo do site da Monstros Discos (não é mercham!), e foi justamente lá que encontrei o CD oficial dos Irmãos Rocha! (pouco tempo depois de minha primeira experiência alucinógena com a banda), simplesmente intitulado “Ascensão e Queda dos Irmãos Rocha!”, não resisti e comprei, mesmo conhecendo apenas umas quatro músicas da banda, no máximo!

Foi uma compra praticamente as escuras que me rendeu bons momentos de risada e contemplação! Irmãos Rocha! é uma banda de Porto Alegre, RS, que prima pela simplicidade do rock como forma marcante de suas composições. O CD possui a incrível marca de 20 canções (mais uma escondida), sendo que a maioria delas não ultrapassa um minuto e meio de duração. O encarte acaba refletindo e complementando a obra: todo em preto e branco, uma simplicidade que beira a genialidade.

O que mais me chamou a atenção nos Irmãos Rocha! é que, como uma banda do sul, eles rompem com aquele tradicional “roquinho gaúcho”. Nada contra, mas acredito que é importante que se tenham pessoas fazendo coisas diferentes e saindo da obviedade estabelecida.

Infelizmente na minha cidade não tem onde adquirir o cd (até hoje não encontrei pra vender e acredito que isso se repita em muitos lugares de nosso vasto país) então sugiro que tentem adquiri-lo através do site da Monstros Discos!

Para lhe dar apenas uma amostra do que está por vir, caso adquira um exemplar do referido “Long Play”, vou deixar alguns trechos de duas músicas para apreciação:

Suicido na Calçada:

“Olha a diversão da gurizada
Recolhendo os pedaços na calçada
Achei um olho, tava caído no chão
Que legal! É a terceira visão!”

Meteoro37:

“Eu não tenho mais amor
Eu tenho um filme de terror
Eu não tenho mais dinheiro
Mas eu tenho o dia inteiro
Tenho um meteoro e é só
Tenho um meteoro e é só”

Ficou afim de dar uma conferida? Então passa na página da Trama (link abaixo) para escutar um pouco do que esses malucos em preto e branco são capazes de fazer!

[ http://tramavirtual.uol.com.br/artista.jsp?id=28939 ]

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Os Mutantes

A primeira grande epopéia rock brasileira!



Há muito tempo conheço Os Mutantes, mas a paixão pela banda demorou a surgir. Um belo dia, enquanto ainda cursava a faculdade de direito, resolvi começar a freqüentar a biblioteca de minha universidade, opa, antes que alguém pare de ler vou explicar: sem querer descobri que a biblioteca era servida de uma grande quantidade de livros sobre música, adivinha? Toda semana eu estava lá até terminar de ler o que me interessava naquela vasta variedade de títulos!

O primeiro livro que retirei, e assim obriguei a pobre bibliotecária a procurar minha amarelada ficha de inscrição junto ao cadastro da biblioteca, foi: “A Divina Comédia Dos Mutantes” de Carlos Calado, publicado pela Editora 34. Hoje o livro está na segunda edição (1996), primeira reimpressão (2006).

A paixão escancarada pela banda veio ao final do livro! E é justamente este livro (que tenho e não empresto! Não me pergunte o porquê!) que gostaria de indicar! Graças a uma reimpressão, o livro que estava esgotado voltou a ser publicado. Isso, claro, em função da volta da banda em sua formação, digamos, quase original.

Entre a segunda edição e a reimpressão o livro encolheu! Sim, o tamanho diminui, mas o conteúdo é exatamente o mesmo, e neste ponto acho que merecia uma certa atualização por parte do autor (não sei se ele está vivo mas espero que sim!), uma vez que o último capítulo data de 1995, e, se quer, havia sido lançado o disco tecnicolor, a muito perdido nos arquivos da Polydor, que dizer da volta da banda então!

O que mais chama a atenção, entre as mais de 350 páginas de informação, foi à busca incessante por informações relevantes para que o leitor possa se deliciar ao ir acompanhando a infância do trio, passando por trabalhos anteriores à banda, o derradeiro início dos mutantes, conflitos internos, entrada e saída de componentes, até o primeiro final sepulcral, e, por fim, posteriores tentativas frustras de reencontro. Tudo isso para que se possa entender o que levou Os Mutantes a serem a primeira grande banda de rock nacional.

É uma obra tão bem feita, talvez sem precedentes na literatura especializada, que ao final você sente como se Arnaldo, Sérgio e Rita fizessem parte de sua vida desde o momento de sua própria concepção! Suas histórias acabam se fundindo com você e, então, a paixão por Mutantes está sacramentada em seu coração!

Convêm salientar que o livro nos mostra não apenas a história da banda, mas os frutos que esta teve ao longo de sua carreira. Apenas para citar algumas das personalidades que surgiram do convívio junto aos Mutantes e que você poderia se surpreender: Lulu Santos e Lobão. Hoje, Os Mutantes continuam sendo referência para muitos artistas, não só no âmbito nacional mas internacional também, fato este que atribuo a abrangência de estilos encontrada em sua discografia (do rock tradicional ao progressivo passando pelo lisérgico).

Oficialmente Os Mutantes tiveram nove discos lançados:

Os Mutantes (Polydor, 1968)
Mutantes (Polydor, 1969)
A Divina Comédia Ou Ando Meio Desligado (Polydor, 1970)
Tecnicolor (Polydor, 1970, lançado em 1999)
Jardim Elétrico (Polydor, 1971)
Mutantes e Seus Cometas No País do Baurets (Polydor, 1972)
O A e o Z (Philips, 1973, lançado em 1992)
Tudo Foi Feito Pelo Sol (Som Livre, 1974)
Ao Vivo (Som Livre, 1976)

Claro que ao ler o livro você perceberá uma gama enorme de singles e trabalhos anteriores que, dado a dificuldade na reedição dos mesmos, tornaram-se peças de colecionadores afortunados.

Mas a boa notícia, além da reedição do livro, fica por conta da reedição de TODOS, sim, todos os trabalhos fonográficos lançados pela banda! Tudo em função da volta da mesma que, infelizmente, já demonstram sinais latentes de um possível e provável novo fim. Entre esses discos, passíveis de serem adquiridos, eu ouso indicar estes: A Divina Comédia Ou Ando Meio Desligado; Jardim Elétrico; Mutantes e Seus Cometas No País do Baurets e o LP; O A e o Z. Para mim estas são as obras primas da melhor faze da banda!

Mas não fique ai sentado! Corra já para uma livraria e garanta seu exemplar de “A Divina Comédia dos Mutantes”, aproveite o embalo e visite a loja de discos mais próxima e trate de garantir seus exemplares fonográficos antes que só lhe reste lamentar, ou esperar a próxima volta triunfante de uma das bandas de rock mais significativas e influentes de todos os tempos do cenário efervescente nacional!